Tudo começou assim, dia
29/05/2005 fiz a primeira prova de corrida de rua, naquela época ainda não era
essa febre toda, mas meu padrinho Praxedes descobriu e fomos fazer a prova, sem
tênis especial, sem planilha de treino e sem saber muito o que nos esperava.
Naquela fase, eu fazia judô já a 12 anos, então o condicionamento ajudou.
Mal sabe ele, que aquele convite
criaria um monstro rsrs, no começo, ele mesmo com bons anos a mais do que eu
terminava as provas e ia me buscar para terminarmos juntos, mas o tempo foi
passando e logo era eu quem ia buscá-lo. Vieram as corridas de 12km, as São
Silvestres, 10 milhas e quando cheguei na meia maratona achava que ali era meu
limite, jamais pensava que era possível correr uma Maratona. Mas chega uma hora
que para não parar preciso ter uma meta, um novo desafio, algo que me faça
acordar cedo, ter foco, disciplina e trabalhar duro pra conquistar.
Até que veio a maratona,
justamente em Florianópolis, lá, enquanto fazia a prova, via as marcações do
Ironman no asfalto e pensei que um dia voltaria ali pra fazer essa prova. E não
é que esse dia chegou?
Demorou quase 5 anos, mas chegou.
Preferi dessa forma, com prudência e cumprindo cada degrau dessa longa jornada
até ser um IRONMAN. Assim como na corrida as distâncias foram aumentando aos
poucos, começando com os biathlons, duathlon, short triathlon, triathlon
olímpico, meio iron (Vários) até achar que realmente poderia se tornar
possível.
A PREPARAÇÃO
Começou há 1 ano, data em que
você precisa decidir fazer um ironman, pelo menos decidir se inscrever, já que
as inscrições se encerram em 14 minutos um ano antes. Confesso que quando me
inscrevi não achava que estaria preparado, mas ainda tinha um longo ano pra
tornar o impossível possível.
Nesse tempo, fui treinando não só
o corpo, mas principalmente a cabeça, e hoje tenho certeza, que é ela que te
leva até a linha de chegada. Testei algumas assessorias esportivas até acha um
ótimo treinador Ronaldo Martinelli da 5ways, exatamente o que eu procurava, sem
frescuras, e muito competente no que faz. Os treinos específicos para o Ironman
duraram 9 meses, com uns 2 bem intensos. Achei que sofreria mais nesse período,
acho que me preparei tanto psicologicamente para isso que quando foi chegando
já me sentia preparado.
Nesse tempo fiz várias provas
para teste, foram recordes nas distâncias, muito aprendizado e principalmente
aprendendo a durar.
A SEMANA DA PROVA
A prova começou mesmo na
quinta-feira, dia em que chegamos em Floripa, aliás é a melhor coisa a se
fazer, tem tempo para ir na feirinha, retirar kit, ver amigos e ainda treinar
tranqüilo.
Quinta-feira: Foi o dia de sentir
a bike, 1 hora de giro leve
Sexta-feira: 30 minutos de
natação de manhã para soltar, manter a máquina aquecida. A tarde foram mais 30
minutos de corrida, é bem difícil fazer só esses treininhos, dá vontade de sair
que nem louco, mas a paciência faz parte do treino e principalmente da prova.
Sábado: OFF, minhas únicas
atividades foram fazer o checkin da bike, reunião com o treinador e ir a missa.
A PROVA
O despertador tocou as 4:02, a
noite de sono foi bem tranqüila, a dica do treinador também ajudou de não
acordar muito tarde no sábado para ter sono cedo e já entrar no fuso da prova.
As 4:15 já estávamos tomando o
café da manhã que mais parecia um almoço rsrs. As 5:30 já estávamos na área da
prova, acertando os últimos detalhes, conferindo materiais, e principalmente
procurando um banheiro, e quando não se acha, vá no mato RS (Leve sempre o
papel higiênico do hotel RS). A essa hora, faltando uns 30 minutos para a
largada fui aquecer no mar, nadar uns 10 minutos para sentir a água gelada na
cara. Depois, é despedir de todos que estão ali pra te ajudar, e isso fez toda
a diferença, ter na largada a presença da Mariana, Tandaya, Adri, Rodrigo e
Levi. Sabia que dali pra frente seria comigo...
A NATAÇÃO
É realmente muito emocionante,
quando o Sol acaba de nascer a sua direita a largada acontece, me emocionei
muito, mas tentei manter minha mente calma, pois nada ainda estava ganho. A
largada é realmente uma pancadaria, muita gente, chute, braçadas na cara, gente
desesperada, gente querendo passar por cima, por baixo rsrs, mas até que depois
de uns 500mts fica mais calmo. A primeira boia foi a mais difícil, era a mais
longe e com mais gente, demorou um pouco até o batimento cardíaco ficar calmo
como deve ser.
A segunda volta foi mais
tranquila, sem muita gente e vi que meu tempo estava bom, melhor do que eu
havia programado, o único ponto ruim foram as muitas águas vivas no mar, muitas
mesmo, assustou bastante, mas nada grave. Sai do mar com o tempo de 1:22:03. Aí
segui a dica do treinador, fazer a transição com bastante calma, não eram
alguns minutos a menos que faria a diferença no longo pedal, e assim em fiz a
transição em 16:20.
A BIKE
Estava preocupado com a bike,
havia rodado nos treinos somente 160km, mas confiei no treinador e preparei a
mente para os 180km, a primeira volta foi BEM confortável, algumas subidas,
pouco vento e 2 pitstops para ir ao banheiro (Faz parte RS). No retorno, quando
encontrei todos ali senti a energia pra segunda volta, MAS perto do 140km deu
vontade de descer da bike e chorar, MT vento, o pedal não rendia, acho que foi
o único momento da prova que minha cabeça desviou do foco e perdi a
concentração. As câimbras vieram, as dores no pescoço, costas e cansado de
ficar tanto tempo com a bunda no selim. MAS, aos poucos voltei para a prova,
não adianta pensar na maratona sem antes terminar o pedal. Foram 7:06:19. Tempo
alto, acho que está aqui o ponto que tenho muito a melhorar, mas pra quem pega
a bike somente de fim de semana e pedala na aula de spinning durante a semana
toda ate que foi bem. A segunda transição durou menos que a primeira, 12:31
A CORRIDA
Quando coloquei o pé no chão
sabia que só dependeria de mim terminar o Ironman, estava tudo exatamente dentro
do previsto, só esperava ter chego na corrida menos cansado. A primeira volta
era longa, 21km de MT subida, não tinha opção era correr no restante e subir
andando, não valia a pena correr nesses pontos e sacrificar o resto. E por
incrível que pareça a primeira volta não doeu tanto assim. No retorno para a
segunda volta foi emocionante também ver todo mundo lá, uns já chegando, mas a
torcida toda, mesmo os que você não conhece torcendo por você.
A segunda volta que era de 10km
acho que foi a mais dura, ter que administrar o pace para não quebrar na última
volta, ter feito duas maratonas antes ajudou muito pra saber aonde dói mesmo na
corrida.
Quando chegou a última volta de
10km veio a certeza que completaria a prova, nessa volta a cabeça te leva, não
existe barreira dos 30km, não existe dor, pensamento ruim, frio, só existe a
linha de chegada. Nessa volta comecei a fazer as contas, e pensei em tentar
terminar abaixo de 14 horas, mas era pra mim humanamente impossível RS. Só de
terminar bem, e feliz já bastava. Nesse ponto, não entrava mais BCAA, gel,
bananinha, rapadura, sal, gatorade, nada, a única salvação milagrosa foi a sopa
quente no copo dada pela organização.
Quando vi a placa do 40km não
teve jeito, pensei em tudo que me levou até ali, em todos os treinos, em todas
as madrugadas de treino, em tudo que abri mão para atingir um desafio e chorei,
chorei mesmo de alegria, de ter acreditado que nada é impossível. E assim
passou mais um km e nem percebi, quando vi já estava no km final, e ao é que
apertei o passo, até encontrar a Mariana, fomos juntos uns 400mts finais, com
direito a sprint e com direito a cruzar a linha de chegada com o grande amor da
minha vida. Realmente é indescritível, só cruzando aquela linha pra saber o que
significa.
Obrigado a todos que me apoiaram,
aos incentivos, mensagens, carinho e treinos, hoje eu posso dizer que valeu a
pena!
Ass. IRONMAN rs